o peso do vazio
- Jessyka Karen
- 2 de out. de 2024
- 2 min de leitura
eu ainda lembro da primeira vez que me senti vazia. foi um choro de alívio. depois de tanto tempo com tantas emoções misturadas e estando alienada de mim mesma, servir vazio me deixava leve. a área cinza era neutra, diferente da escuridão que me acompanhava, do vermelho que eu desejava ver escorrer ou do branco pálido que assistia no espelho todo dia, insistindo em encontrar algo além da dor.
talvez por isso eu ame cinza. não transmite emoção. e eu nem vou atrás de ler sobre psicologia das cores porque me basta o efeito em mim - nenhum. cinza é céu nublado, mas claro. é prata gasta, que perdeu o brilho depois de tanto enfeitar meus dedos. cinza é cimento, que constrói espaços que podem ser nada, mas também podem ser lar. cinza é fumaça, que marca presença e evapora, como tudo na vida.
cinza é a gente depois da vida. é quando não há mais calor, não há mais voz. cinza.
e também é cinza a parede da minha sala, onde quero colocar prateleiras para mais livros. é cinza o meu único pijama. é cinza minha camiseta preferida.
e hoje, depois de um dia que eu achei que estava no controle de todas as minhas cores, eu sentei no chão da sala e me vi cinza. vazia. morta. como daquela vez, mas sem nenhum alívio ou leveza. vazia como quem não vê nada além do véu cinza que esconde o sol. vazia como um poço que secou ou como uma caminhada no deserto, onde não há nada além de um horizonte distante por todos os lados. e chorei. muito. como há muito tempo não chorava.
e ao contrário da física, quanto mais eu chorava e colocava para fora minhas lágrimas, mais cheia eu ficava.
o vazio tem peso. tem cor. tem cheiro. tem cara. tem preço.
assumir o cinza que me habita é gritar minha vulnerabilidade para quem puder ouvir.
eu busquei gatilhos que tenham feito o vazio triste me tomar, e encontrei muitos. em dois dias precisei mexer em tantas coisas que nossa... não sei qual foi o gatilho real, apenas que deu. e assumir isso faz tudo ficar mais objetivo. não mais claro, porque ainda é cinza viver, mas mais palpável.
eu ainda amo cinza e ainda desejo ser visitada por vazios que me tragam à razão da existência. eu só espero ter alguém lá para me abraçar na próxima vez.

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