amanhã ou depois
- Jessyka Karen
- 26 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de nov. de 2023
nota: escrevi esse texto em meados de 2018. recuperei e quis guardar aqui.
Uma vez, numa das viradas de noites na agência, enquanto buscávamos a pizza na portaria, um colega falou: "a gente vai chegar em casa de madrugada. não vou nem ver meu filho antes de dormir, não vou falar com a minha esposa. eu só deixo o meu pior para eles."
Aquela fala dele me pareceu tão óbvia… Eu também só deixava o pior para o meu marido ou para os meus amigos. E meu marido, com ainda menos tempo que eu, me entregava o que sobrava do pior dele. Deixamos pra depois a troca de carinho Deixamos que a rotina fosse nosso caminho
Aos poucos, todo mundo só viu o meu pior.
Cansada, atolada de job, sem muito papo, bêbada para aproveitar ao máximo o tempo perdido, caída na cama num dia de depressão. Eu não tinha mais paciência para minha mãe. A vida perdeu a graça. Estar dentro da agência e fazer do ápice do meu dia a pizza a noite ou o almoço com os colegas mais próximos apagou quem eu era.
Eu não tinha mais amigos. E talvez nem quisesse ter em alguns momentos.
Deixamos pra depois a busca de abrigo Deixamos de nos ver fazendo algum sentido
Eu não queria grandes festas, só pequenos encontros com quem estava comigo todo dia e na mesma vibe: cansado. Gente a fim de pasmar e curtir nada.
Deixamos de sentir o que a gente sentia E que trazia cor ao nosso dia a dia Deixamos de dizer o que a gente dizia Deixamos de levar em conta a alegria Bom, como tudo na vida, perdi meu tudo - que era nada. Já que era só o que me sobrava. E depois de perder tudo que eu achava que tinha, eu fiquei com ainda menos nada.
Deixamos escapar por entre nossos dedos A chance de manter unidas as nossas vidas
Não sei voltar atrás. Não sei o que restou de mim. Não sei o destino que busco, não sei o que quero.
Amanhã ou depois, tanto faz se depois
For nunca mais, nunca mais

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